repliche orologiHistória
NASCIMENTO E ADMINISTRAÇÃO DA FREGUESIA
A freguesia de (S. Salvador de) Ramalde é mencionada pela primeira vez com o nome arcaico de Rianhaldy nas Inquirições de D. Afonso III, em 1258. Porém, já aparece citada anteriormente, como lugar num documento de 1222 no qual a rainha Mafalda faz uma doação ao Mosteiro de Arouca.
A origem e crescimento do povoado de Rianhaldy perde-se nos tempos, antes da fundação da nacionalidade, provavelmente entre 920 e 944, data em que chegaram ao território os monges beneditinos. Assim começaria a história do julgado de Bouças e do seu antiquíssimo mosteiro. Este território pertenceu ao padroado real de D. Sancho I que depois o doou, em 1196, a sua filha D. Mafalda. Na época de D. Sancho II esta parcela de território denominava-se Ramunhaldy e era constituído por cinco lugares: Francos, Requezendi, Ramuhaldi Jusão e Ramuhaldi Susão (atualmente Ramalde do Meio). Entre 1230 e 1835 pertenceu ao concelho de Bouças (ou Bouças de Matosinhos) o qual integrava, além de Ramalde, também S. Mamede de Infesta, Matosinhos, Aldoar, Nevogilde, parte de Paranhos (do concelho do Porto) e um conjunto de mais 20 povoações. Em 1895, por decreto régio de D. Carlos, Ramalde é integrada no concelho do Porto juntamente com Aldoar, Nevogilde e parte da atual freguesia de Paranhos. Os seus limites ficaram assim definidos: a norte, o concelho de Matosinhos (Bouças); a sul, a freguesia de Lordelo do Ouro; a levante, as de Paranhos e de Cedofeita e, a poente, a freguesia de Aldoar.
EVOLUÇÃO DEMOGRÁFICA
É muito difícil caraterizar demograficamente e com precisão Ramalde no período anterior a finais do séc. XIX. No entanto pode dizer-se que, nesse período, Ramalde comportava uma população já considerável: em 1757, 407 fogos e em 1855 cerca de 600. Por outro lado, o forte crescimento da natalidade, bem maior o da mortalidade, indiciam subida da população. No período que medeia desde os finais do séc. XIX e finais do séc. XX, segundo dados disponíveis do "Censos" 1991, já é possível fazer uma análise mais rigorosa da evolução demográfica com dois períodos distintos: um, até finais do séc. XIX, fase em que ainda não existia o recenseamento; e outro, desde os finais do séc. XIX até à atualidade, já existe "Censos" e alguns estudos sobre essa evolução. Pode assim concluir-se que, entre 1864 e 1981, mais de um século, Ramalde manteve sempre um crescimento populacional, acentuado em alguns períodos. Mas é no "Censos" de 1991 que se verifica, pela primeira vez, uma taxa de crescimento populacional negativa a qual será ultrapassada, tanto em 2001 como em 2011, mantendo-se atualmente esta mesma evolução, positiva mas mais ténue em relação ao passado, de acordo com o registo de eleitores e, curiosamente, ao contrário do que vem acontecendo nas restantes freguesias do concelho e cidade do Porto. O quadro de enorme progressão populacional, entre 1864 a 1900, reflete um crescimento para mais do dobro. Este facto é explicado pelo arranque do parque industrial na freguesia e natural mobilização de uma crescente mão-de-obra que aqui veio fixar-se nas várias “ilhas”, um fenómeno na cidade do Porto, nos finais do séc. XIX e princípios do séc. XX, aglomerados de famílias, vindas das zonas rurais, servidas por um pátio (logradouro) comum ligada por fortes laços de interajuda e solidariedade, um termo então ainda desconhecido no léxico. Entre 1940 e 1950 e de 1960 a 1970, a população apresenta ritmos de crescimento que variam entre 39% e 45%. No período correspondente a 1940/50, o acréscimo pode ser explicado por um fluxo migratório ainda mais forte das zonas rurais para as zonas urbanas. Para o período de 1960/70 pode estabelecer-se uma relação de crescimento populacional face ao desenvolvimento industrial e fixação de mão-de-obra junto das unidades industriais. Mas também não deve ser alheia a este crescimento a implantação de um grande número de bairros de habitação social para alojar franjas de população deslocadas do centro do Porto, zona nobre que apresentava alguma saturação.
ACELERAÇÃO DO URBANISMO NA ATUALIDADE
O modo de vida reflete um processo de descaraterização sociocultural, em grande parte devido à aceleração da urbanização, nomeadamente a partir da década de 60.
Hoje o número de indivíduos que trabalham no setor primário é quase nulo (no "Censos" de 91 eram apenas 55) e os traços culturais dessa ruralidade quase se perderam, sendo desconhecidos entre a população mais jovem. Mas, por outro lado, estão a ressuscitar as denominadas hortas comunitárias, um outro fenómeno que não deve ser minimizado muito menos exorcizado, gente com raízes rurais, uma vez abandonada a vida ativa, encontram na reforma esta salutar ocupação do tempo, um misto de lazer e economia caseira, plantando e recolhendo produtos hortícolas frescos em vários pontos da freguesia, destinados a consumo próprio, dos vizinhos e amigos. Atualmente, 62% da população trabalha no setor terciário, seguindo-se 37% no setor secundário e mínima expressão (1%) no primário, nas referidas hortas comunitárias. Nota-se também uma quebra de sociabilidade e relação de vizinhança, o que poderá ser explicado, em parte, por uma percentagem significativa de a população ativa trabalhar fora da freguesia, mantendo contactos privilegiados em diferentes espaços. A abertura de importantes ligações rodoviárias - que interessam mais ao Grande Porto do que propriamente à população da freguesia, caso da VCI, da Av. da AEP e do Metro - também não favorece o contacto, pelo contrário, as tradicionais relações de vizinhança, de solidariedade e mesmo de mobilidade, nalguns pontos de Ramalde, foram fortemente afetadas, registando-se queixas sobretudo na zona de Francos e linha do Metro quando foram eliminadas algumas vias de atravessamento automóvel.
HABITAT E URBANISMO
No início da industrialização da freguesia a habitação operária designava-se "ilhas", alojamento muito precário, mas que permitia fixar mão-de-obra a baixo custo, como já atrás referimos. Por outro lado ao patronato industrial associava-se o crescente desenvolvimento de uma burguesia portuense, com pendor industrial. Estas "ilhas" eram a única alternativa para uma incipiente classe operária cujo poder de compra era muito baixo, dada a prática corrente de baixos salários no início da industrialização no princípio do século XX (o Porto também teve a sua revolução industrial, curiosamente, promovida pela colónia inglesa que para aqui se deslocou desde D. João V e indústria do vinho do Porto e, logo a seguir, a têxtil). Por fim, no plano de melhoramento da cidade, em 1956, e depois, no PDM 1962, a freguesia de Ramalde perde definitivamente a sua face camponesa e torna-se num espaço de preferência residencial utilizada pelo setor secundário.
Os Planos indicados fizeram evoluir o centro da cidade para uma progressiva terciarização enquanto zonas periféricas, como o é a freguesia de Ramalde, passaram a funcionar como espaços residenciais e de crescimento do setor secundário. No que diz respeito aos espaços residenciais surgem novas realidades habitacionais, de certo modo pretendem substituir as "ilhas" da primeira fase, as habitações nos bairros sociais construídos pelo poder municipal e também central. Este tipo de habitação pretende dar resposta ao aumento populacional da cidade numa época em que se põe em prática uma política de transferência administrativa de setores da população do centro da cidade para a periferia, alguns provenientes de zonas degradadas.
A habitação social marca profundamente a ocupação na freguesia de Ramalde fundamentalmente a partir da década de 60. Em contrapartida e sem explicação, embora tenha sido Ramalde um território rural, parece não houve a preocupação da criação em espaços verdes. Na realidade, em toda a freguesia apenas existe uma zona de lazer que nem sequer é pública. Trata-se do Parque de Campismo da cidade (atualmente inoperacional), ou Parque da Prelada, o qual ocupa a quinta que pertenceu ao antigo solar dos Senhores da Prelada, da Família Noronha e Meneses. Existem vários bairros de habitação social, propriedade da CMP (a maioria) e do IHRU: Pereiró, CTT, Previdência, Campinas, Ramalde, Francos, Ramalde do Meio, Viso e Bairro de Santo Eugénio, os mais conhecidos. Encontramos também habitação privada mas degradada, as já denominadas "ilhas", nas zonas de Pedro Hispano e João de Deus, Francos, Ramalde do Meio, Requesende, Pedro de Sousa e Pereiró.
A par deste tipo de habitação aparecem áreas novas residenciais mais ricas e construção mais moderna, recente: na avenida da Boavista, no Bessa e avenida com o mesmo nome, na zona residencial da Boavista (Foco), em S. João de Brito, S. João Bosco e Pinheiro Manso e na avenida Antunes Guimarães, entres outras. Repare-se que estas zonas se situam nos limites da freguesia, sul, leste e poente.
Pode considerar-se que um outro tipo de urbanismo está representado na Cidade Cooperativa da Prelada, complexo habitacional inaugurado em 22 de julho de 1993. Trata-se de um empreendimento que congregou o esforço de várias cooperativas: "Sete Bicas", "Ceta", "Hazal", "Portocoop", "Santo António das Antas", "Santo Ildefonso", "Solidariedade e Amizade". Esta grande Urbanização, a maior da Freguesia, muito bem dotada de espaços verdes, tem como vizinha uma outra urbanização cooperativa, a "Nova Ramalde". O grande surto da habitação cooperativa surgiu logo após a revolução de 25 de Abril de 1974 e, na década de 80, também o da habitação privada, foi uma árvore que quis crescer até aos céus, transformou-se numa torre de Babel de confusão financeira e ganância de instituições financeiras e promotores imobiliários que o “tsunami” de 2008 que varreu os EEUU e a Europa haveria de arrasar. Lamentavelmente o poder político (também o financeiro) não ousou, na década de 90, enveredar por outro caminho, o da reabilitação e requalificação do património urbano existente como já anteriormente tinha acontecido com a requalificação de antigos solares e casas apalaçadas, através de fundos comunitários. Muitos perderam-se para o turismo – era promessa e objetivo artificial, é um facto – mas, ainda assim, possibilitaram a recuperação de património imobiliário de grande qualidade, outro facto que, de outro modo, seria impossível.